.20 de fevereiro de 2016

Eu li: Livro Dias Perfeitos, de Raphael Montes


Autor: Raphael Montes
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2014/Páginas: 280

Sinopse: " Téo é um solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e examinar cadáveres nas aulas de anatomia. Durante uma festa, ele conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema. Ela está escrevendo um road movie sobre três amigas que viajam em busca de novas experiências. Obcecado por Clarice, Téo quer dissecar a rebeldia daquela menina. Começa, então, uma aproximação doentia que o leva a tomar uma atitude extrema. Passando por cenários oníricos, que incluem um chalé em Teresópolis e uma praia deserta em Ilha Grande, o casal estabelece uma rotina insólita, repleta de tortura psicológica e sordidez. O efeito é perturbador. Téo fala com calma, planeja os atos com frieza e justifica suas atitudes com uma lógica impecável. "

"A capacidade do autor de explorar uma psique doentia é impressionante – e o mergulho psicológico não impede que o livro siga um ritmo eletrizante, repleto de surpresas, digno dos melhores thrillers da atualidade. Dias perfeitos é uma história de amor, sequestro e obsessão. Capaz de manter os personagens em tensão permanente e pródigo em diálogos afiados, Raphael Montes reafirma sua vocação para o suspense e se consolida como um grande talento da nova literatura nacional."

Isso basicamente resume Dias Perfeitos. É um livro super rápido de se ler pois desde a primeira frase você já é sugado pela mente doentia do Téo. 
Eu fiquei completamente aterrorizada, e essa é a palavra perfeita para descrever,  com o quão frio o Téo conseguia ser em relação a todos os acontecimentos. Mesmo sabendo que se tratava de um sociopata/psicopata, não tem como não ficar chocado.

"Do beijo, furtado e furtivo, ele havia se tornado refém. Não era o invasor, mas o invadido, não queria só desvendar, mas ser desvendado. 
Ele amava Clarice, admitiu. 
Precisava ser amado."

Eu acho que pela Clarice ser tão diferente do Téo, ou seja, social, de bem com a vida, um "espírito livre" ele ficou tão encantado com ela. Viu nessa garota tudo o que ele não era, sabe? E no momento em que a Clarice foi amigável com ele, foi como se na cabeça dele, tivesse uma "permissão" pra criar todo aquele conto de fadas macabro. 
Bastou apenas um beijo numa festa para sua obsessão começar. A partir daí o Téo irá seguir a Clarice para todos os cantos, forçando sua entrada na vida dela.
Que nunca mais será a mesma.

"Pouco a pouco, Clarice reconquistava uma parcela de liberdade. Jamais voltaria a ser aquela menina esvoaçante que ele havia conhecido no churrasco. Afinal, relacionamento também é privação. Estavam atados um ao outro. Ele levaria Clarice consigo para sempre: já não podia viver ou mesmo morrer sem ela."

Eu fiquei com MUITA raiva de ambas as famílias da história. Enquanto o Téo estava ali fazendo coisas monstruosas com a Clarice e abusando dela de todas as formas possíveis, ninguém desconfiava de nada. Não, desconfiam sim. Mas simplesmente escolhem deixar por isso mesmo. Principalmente a mãe da Clarice que era a que realmente podia fazer algo ali! 
Eu achei muuuuito surreal o modo como a história se seguiu, como eu disse antes um conto de fadas macabro. Aliás, o autor faz referências de contos de fadas no livro. Temos nomes de locais como "Hotel Fazenda Lago dos Anões" (com anões de verdade dirigindo o hotel), "Motel das Maravilhas e "Praia do Nunca". 

A leitura é bem fluida, os capítulos são pequenos e quando você percebe já está na metade da história. É tanta tensão do começo ao fim que ás vezes é preciso dar uma fechada no livro e respirar fundo para conseguir continuar.
O leitor torce o tempo inteiro para que a Clarice consiga fugir, mesmo que na maior parte do tempo ele deixe ela dopada. E falando em fuga, há uma reviravolta enorme no livro e nessa hora eu pensei com todas as letras: O JOGO VIROU NÃO É MESMO?
Não.
Clarice foi muito burra.
Ela escolhe ter a vingança dela do que vazar dali pra nunca mais voltar. Mas não vou falar mais, pois já seria muito spoiler.


O mais louco de tudo foi ter a experiência de entrar na cabeça de um sociopata e saber dos pensamentos mais sombrios dele. 
Dá um arrepio na espinha você se dar conta que esse tipo de pessoa age de uma forma tão normal, tão metodica que você poderia até ter um amigo ou um familiar assim e nem sabe.
Na mente doentia do Téo, tudo que ele fazia tinha um motivo plausível. É chocante, é impressionante.
Nada que faz é errado, é criminoso. Pra ele chega até a ser normal. Sempre que cometia algum ato grotesco, logo tratava de argumentar para que aquilo fizesse sentido na cabeça dele.

Por muitas vezes eu conseguia me colocar no lugar da Clarice e sentir o terror dela. Como lidar com alguém tão egocentrico, que é capaz de manipular a todos tão fácil? 
Eu não consigo acreditar (mas sei que é real) que uma pessoa possa ser assim.
Pelo fato de Téo não conseguir, não ser capaz de sentir algo por outra pessoa, ele quis forçar tal sentimento.

"Um sociopata não tem apego aos valores morais e é capaz de simular sentimentos, para conseguir manipular outras pessoas. Além disso, a sua incapacidade de controlar as suas emoções negativas torna muito difícil estabelecer um relacionamento estável com outras pessoas."

Acho que desde Objetos Cortantes eu não lia um thriller tão bom, tão instigante e com personagens marcantes. Dias Perfeitos te prende até o amargo fim. E que final amargo viu? Fiquei com esse gosto na minha boca.
Eu não consigo admitir esse final, claramente eu gostaria que fosse algo diferente. Algo pelo qual todos os leitores ficaram torcendo o livro inteiro. Confesso que fiquei com bastante raiva rs 
Me senti injustiçada. 

Enfim, eu gostei muito do livro! Tirando algumas coisas claro, é um livro fantástico.
Soube que Dias Perfeitos está sendo lançado em vários países a fora e está fazendo um baita sucesso, e o Raphael merece MUITO todo esse sucesso, pois ele é talentoso demais. 


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